“
DEIXANDO RASTROS DE SAUDADE ...SAUDADE QUE NÃO TEM FIM...”
A
saudade é uma sensação tão difícil de ser definida. Só quem sente é capaz de entendê-la.
É um vazio, é uma dor que dilacera, é uma tristeza, uma angústia, um desalento.
Como dói perder as pessoas que amamos. Sei que as pessoas não são propriedades
nossas e de ninguém, mas digo perder, porque elas não estão mais ao nosso lado,
ao menos fisicamente, nós não podemos abraça-las, não podemos ouvi-las, olhar
em seus olhos e nem fazer nada para mudar essa situação. Quando uma pessoa
morre, parece que cresce uma barreira intransponível entre a gente. Essa
saudade da ausência, da despedida final é muito diferente da que sentimos
quando vamos viajar, quando ficamos separados por alguns dias ou meses daqueles
que amamos, pois se ela apertar demais posso ligar, posso voltar. A saudade da
perda pela morte não nos permite fazer nada disso.
As
pessoas sempre dizem que o tempo é o melhor remédio para isso. Que com o tempo,
as coisas se ajeitam, a dor se aquieta e nosso coração se acalma. Que com o
passar dos anos, fica uma saudade boa, lembranças dos momentos vividos. Mas eu
não concordo muito com isso. É lógico que inevitavelmente, com o desenrolar do
tempo, algumas coisas vão se acomodando, mesmo que você não queira. Mas a cada
dia que vivo sem a presença física de minha mãe, minha certeza de que ela não
voltará só aumenta e o meu desespero por não saber mais o que fazer, só cresce
e aperta ainda mais meu coração. Tenho medo de me cansar de tanto lutar, para
aceitar, para seguir em frente, sendo que todos os meus esforços parecem que
são insignificantes. É muito duro voltar para casa todos os dias depois do
trabalho e ter no caminho a sensação de que minha mãe está me esperando e
chegar em casa e ver que nada mudou, ela não está mais ali e não estará nunca
mais. Mas eu ainda acredito interiormente e desejo ardentemente encontra-la de qualquer
maneira, eu preciso disso. Pode parecer estranho e até mesmo loucura, mas para
mim é amor incondicional, é um amor enorme e sublime que foi a base e o alimento
da minha vida. Sempre vivi para minha mãe e ela sempre viveu para mim e para
minha família. Nós sempre fomos muito unidas, mas com as doenças nós nos
aproximamos mais ainda, ela só se sentia segura na minha presença e eu também
me sentia protegida e cuidada, ao poder cuidar de minha amada mãe e tentar
aliviar ao menos por alguns instantes seu sofrimento.
É estranho perceber que as pessoas nos marcam tão
profundamente quando convivemos com elas, e que mesmo, quando estão ausentes,
também continuam nos marcando, pelas lembranças e pela dor da saudade. Sinto
que a saudade também deixa suas marcas internas dentro de nós e por vezes, até
externas. Parece que o Universo age e faz com que coisas aconteçam ao nosso
redor, deixando bem evidente a presença da ausência daqueles que amamos. Já
vivi muitas situações assim. Mesmo que eu não queira me lembrar mais, porque
vai doer (lembrar que eles morreram), alguma coisa acontece em minha vida, que
me faz lembrar da ausência dos meus entes queridos. Ontem mesmo vivi uma
situação assim, estava num lugar onde não conhecia ninguém e de repente, surge
uma pessoa perguntando se eu e meu pai não o conhecíamos e durante a conversa,
descubro que essa pessoa conheceu meus avós maternos, minhas tias, minha mãe e
ele nos pergunta sobre minha mãe e aí, inevitavelmente, tenho que afirmar que
ela faleceu. E ao fazer essa afirmação, meus sentimentos são reavivados e a
certeza de que ela não está mais aqui, dói numa intensidade, que com palavras
não sou capaz de descrevê-las. É lógico que sou consciente disso (ela morreu),
mas ao ter que afirmar isso para outras pessoas, mesmo tendo se passado dois
anos, dói profundamente. E para completar, tudo aconteceu num dia muito
significativo. Ontem estava fazendo exatamente oito anos que meu amado avô
faleceu e que a minha luta para sobreviver aos lutos que me foram impostos
começou. Meu avô sempre foi uma pessoa muito importante em minha vida, foi um
amigo, um pai, e até mesmo um professor na sua humildade e doçura. Mas quando
ele se foi e partiu, nem tive tempo para chorar sua morte, pois muitos desafios
familiares foram surgindo e num curto período, em 1 ano e 4 meses, nossa
família se despediu de mais quatro pessoas. Assim concluo que não foi uma mera
coincidência do destino, mas foi à ação dos rastros da saudade que me levaram a
viver essa situação ontem. Assim vou seguindo, aprendendo a compreender as
lições que a vida nos mostra.
“Saudade não tem forma nem cor; não tem cheiro nem sabor.
Fala-se nela, mas não se vê; só pensa nela quem acredita.
Ela é parte da ausência; ela é parte do amor; ela tem realidade, mas quem a tem sente dor, uma dor miudinha, que cresce no coração, e que nunca vem sozinha…
Acompanha a solidão; quem a sente nunca esquece, nem nunca esquecerá, o sentimento que não adormece, por alguém que não está!” (Rita M. F. Silva)
Fala-se nela, mas não se vê; só pensa nela quem acredita.
Ela é parte da ausência; ela é parte do amor; ela tem realidade, mas quem a tem sente dor, uma dor miudinha, que cresce no coração, e que nunca vem sozinha…
Acompanha a solidão; quem a sente nunca esquece, nem nunca esquecerá, o sentimento que não adormece, por alguém que não está!” (Rita M. F. Silva)